VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MEIO CRISTÃO 1


Duas notícias recentes chocam o Brasil. Uma advogada assassinada por seu ex-namorado e atirada dentro de um rio juntamente com seu carro. Outra mulher, que cobrava pensão para o filho de um jogador de futebol, sequestrada, morta, desossada e o corpo jogado para os cachorros, leva-nos a meditar sobre agressões às mulheres.
Segundo dados de 2004, estimava-se que no Brasil a cada 4 (quatro) minutos uma mulher era agredida em seu próprio lar, por uma pessoa com quem mantinha uma relação de afeto.
Em estatísticas de 2006, segundo a Sociedade Mundial deVitimologia (Holanda), que pesquisou a violência doméstica em 138 mil mulheres de 54 países, 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas à violência doméstica.
E o Brasil e o país que mais sofre com a violência doméstica, perdendo cerca de 10,5% do seu PIB em decorrência desse grave problema(http://ww.ibam.org.br/viomulher/bibliore.htm).
Segundo estatísticas de 2010, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil,deixando o país em 12o (décimo segundo) no ranking mundial de homicídios de mulheres (Publicado pelo jornal O Globo, 11-07-2010).
O que leva essas mulheres a continuarem com os maridos ou parceiros, apesar de terem sido humilhadas, espancadas e, ou ameaçadas? Por que muitas retornam para casa diversas vezes, ou se submetem a abusos que provavelmente lhes matarão?
Podemos ser simplistas a ponto de crer que seria fácil para essas mulheres fazerem as malas e ir embora, contudo há muito mais envolvido no relacionamento da mulher agredida e o agressor.
Formam-se caricaturas de mulheres violentadas, tais como: A mulher espancada geralmente é pobre, analfabeta, cheia de filhos, fraca, pequena, vem de lares violentos, não tem para onde ir, etc., embora algumas se encaixem nesses perfis, outras não. Por quê, então permanecem debaixo da violência?
Analisemos alguns elementos:
        Mulheres dependentes do marido financeiramente:Muitas esposas, com filhos, realmente encontram-se sem opções para onde ir. Como fugir de um homem que a ameaça, se não tem família para onde correr? Não tem emprego, não pode deixar os filhos com o agressor? não vê como escapar deste homem.

        Mulheres dependentes do marido financeiramente para manter seu alto padrão: Muitas mulheres da classe social elevada também não querem sair de casa para não deixar para trás seu alto padrão de vida. Vejam bem, que a agressão nem sempre é física, pode ser emocional, através de insultos, humilhações, xingamentos.

        Medo das ameaças: O agressor, em sua maioria, é ameaçador. Ele, na sua insegurança, agride,arrepende-se e ameaça a mulher com medo de perdê-la. Muitas das que conseguem sair, voltam, mostrando ao marido que ele continua no controle.

        Mulheres dependentes do marido emocionalmente: A maioria das mulheres agredidas tem a auto-estima muito baixa, e acha que merecia a agressão. Por outro lado, elas imaginam não conseguir viver sem seus parceiros:afinal de contas ele é tão bonzinhoquando eu não o provoco”, pensam muitas delas.
       
        Mulheres evangélicas recebem reafirmação de continuar, através de dois versículos bíblicos totalmente mal utilizados neste caso: MULHERES, SEDE SUBMISSAS A VOSSOS MARIDOS. Efésios5:22; e A MULHER NÃO TEM PODER SOBRE O SEU PRÓPRIO CORPO, MAS TEM-NO O MARIDO. I Coríntios 7:4.

Não se enganem! 75% das mulheres maltratadas que conseguem e tem a coragem de refazer boletim de ocorrência encontram-se no meio evangélico. Se casadas com homens não evangélicos, a culpa lhes é imposta por ter feito algo, segundo a maior parte das igrejas evangélicas, em desacordo com a Palavra de Deus, e que agora encontram-se somente pagando por sua desobediência.
Se casadas com homens supostamente evangélicos, o conselho de muitos líderes religiosos é que tenham paciência, orem para que Deus restaure seus relacionamentos. O próprio marido, é claro, chama para si o versículo da submissão e do controle sobre o corpo da esposa, arrogando-se do direito de discipliná-la no caso de “ter que corrigir alguma coisa que ela faça de errado.”
Creio termos aqui o controle patriarcal bem instalado, principalmente dentro das igrejas. A mulher, desde muito cedo é ensinada pela sociedade e a igreja que é o sexo mais frágil, e que seu lugar “é esfriando a barriga no tanque e esquentando no fogão” e na igreja “sentada no último banco e calada!”. Ela acredita nos mitos estabelecidos pelas instituições religiosas e pela sociedade patriarcal de controle, deixando-se assim violentar tanto emocional quanto fisicamente.
Infelizmente, muitos líderes religiosos ainda se armam de alguns argumentos bíblicos para manter a mulher debaixo de agressões emocionais e físicas.Existem palavras, insultos que chicoteiam mais do que espancamentos, que derrotam edestruem o ego e a auto-estima de uma mulher.
Homens que conseguem declarar para suas esposas ou parceiras que sentem asco delas, que as denominam de burras, tontas, idiotas, bruxas e coisas assim, conseguem retirar toda dignidade de um ser humano.
Será que realmente é isso que Deus pretende para suas filhas? Ou necessitamos entender o equilíbrio entre retirar um versículo de um texto e usar como pretexto? e os versos emEfésios que ensina os maridos a amarem suas esposas assim como Cristo amou a Igreja e deu sua própria vida por ela? Alguém pode imaginar Cristo xingando e esmurrando sua Igreja? Pelo contrário, Ele foi chicoteado, escarnecido,humilhado como um cordeiro imolado, por sua Igreja.
Será que o verso que fala sobre o corpo da mulher pertencer ao seu marido, dá ao homem também o direito de estuprá-la ou fazer sexo com ela, mesmo que ela não se encontre pronta para tal?
A culpa e o medo de estar infringindo a lei de Deus, muitas vezes mantém as mulheres cristãs dentro de um relacionamento destruidor. Não tenho eu que suportar tudo para não ferir os mandamentos da lei de Deus? não é Cristo contra o divórcio? Não diz o Livro Sagrado que o que Deus uniu não separe o homem? ” Contra argumentam dentro das igrejas.
Se tivermos a coragem de enfrentarmos a situação da violência doméstica com racionalidade e priorizarmos a segurança e o bem estar da família debaixo de agressão, veremos que os versos usados não são aval para a violência. Entenderemos que Deus não quer, nem nunca pretendeu que mulheres e crianças vivam condenadas a humilhações. A vontade Dele para o ser humano é boa, santa e agradável. Quando um homem fere o princípio do fruto do Espírito que é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, temperança e auto-controle, não se pode mais pedir a esta mulher que continue com ele sob o pretexto de que seja a vontade de Deus. Nada mais se deve exigir desta mulher.
Ela está livre para fazer boletim de ocorrência. Livre para sair e tentar encontrar uma nova vida reestruturando sua dignidade humana, sabendo que ser mulher não representa ser inferior, mais frágil, dever estar debaixo do controle do homem, precisando “ser disciplinada para aprender a fazer as coisas direito”.
Não. Mil vezes não! Mulher nenhuma precisa se submeter a afrontas emocionais ou físicas. Você pode sair sim desta situação. Você tem valor. Você encontrará uma maneira de dizer não ao abuso. Procure alguém, fale, grite, busque ajuda, mas não permita que sua dignidade e auto- estima se percam nesse processo.
Texto retirado de:

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